Mesmo que não seja difundida por todos os órgãos de comunicação social, chegam a Lisboa notícias diárias sobre a situação de insegurança que se vive em Timor-Leste, em particular na cidade de Díli. A insegurança sentimo-la todos os que aqui vivemos, incluindo os estrangeiros que passam pelos mesmos receios dos timorenses. Uns têm mais segurança, mas a verdade é que muitos foram apedrejados e feridos sem terem nada a ver com a história.
Não só na capital como espalhados pelos distritos vivem muitos estrangeiros; de entre estes, muitos, imensos portugueses que, em tempos idos foram apelidados de cooperantes, passando mais tarde a “expatriados”, uma palavra pouco simpática, feia e fria.
Quando se fala de expatriados, está a falar-se de portugueses. Assessores, diplomatas, funcionários da embaixada, militares, polícia, juristas, juízes, professores, secretárias, etc, etc, têm em Timor-Leste a sua residência temporária. Também os há que vieram um bocado à aventura, sem contrato de trabalho e os que vieram com contrato a tempo certo que se deram bem e por aqui ficaram. Aqui trabalham e aqui fixaram residência. Por último, há os luso-timorenses que não são expatriados e partilham os seus afectos por duas pátrias.
Se se excluirem os luso-timorenses como muitas vezes se tem feito, somam umas centenas os portugueses que aqui estão. Se os luso-timorenses forem incluídos, então o número chega aos milhares.
Timor-Leste não fica propriamente à esquina de Portugal.
Se eu fosse “expatriada”, gostaria de me sentir acarinhada pelos governantes do meu país. Quando se está longe, esses pequenos gestos de carinho e de lembrança da existência de cada um, caem muito bem.
Por que falo disto?
Porque tenho acompanhado pelas notícias que o senhor Primeiro-Ministro, Engº José Sócrates, está em Macau, depois de ter visitado a China e porque ouvi, precisamente a um expatriado, o comentário de que era pena que o Primeiro-Ministro, Engº José Sócrates, não tivesse aproveitado a oportunidade para vir a Díli.
Entendo que não é muito agradável vir a Timor, depois de se tomar contacto com a realidade macaense.
Compreendo que Portugal tem de investir no estrangeiro, que está em causa não perder o comboio do desenvolvimento económico, que há que reforçar a posição e o prestígio de Portugal no Mundo. E é justamente por isso que me custa entender o motivo pelo qual o senhor Primeiro-Ministro, Engº José Sócrates, não fez um pequeno esforço para vir a Timor-Leste...
Depois de ter estado na China e em Macau, o efeito do jet-lag já lá vai...
Percebo que seja dificil investir aqui, que a crise afugenta qualquer potencial investidor estrangeiro.
Insegurança? Não acredito que a GNR fosse descurar da segurança do senhor Primeiro-Ministro José Sócrates e da sua comitiva!
Também compreendo que Timor-Leste deixou de estar na moda e deixou de ser apetecível vir cá. Entendo que depois do ambiente de sedas e brocados, marfins e porcelanas, ópera chinesa ou jantares de catorze pratos, não é fácil enfrentar a triste realidade timorense, com as ruas mal cuidadas, os edificios públicos encardidos, a cidade desordenada, os refugiados, o discurso oficial repisando nas nossas dificuldades, quase obrigando a quem vem de fora a ter de oferecer solidariedade, o calor, os mosquitos, as moscas, a falta de conforto...
Se o senhor Primiro-Ministro foi a Macau não só pelo interesse económico mas também pelo fascínio que representa a presença portuguesa no Oriente, terei de perguntar se esta se esfumou em Timor-Leste... É que sem falar da História comum, de alguns edíficios públicos de traça portuguesa, da língua portuguesa a ser reintroduzida ou da religião católica, há os portugueses que somam centenas ou milhares, dependendo da interpretação do que é ser-se português em Timor...
E então, os portugueses que aqui vivem não mereceriam do senhor Primeiro-Ministro um desvio na sua rota? A sensibilidade, a solidariedade e a generosidade do Governo português pelos portugueses que estão fora do seu país, são valores fora de moda, estarão adormecidos,terão ficado esquecidos no Palácio de São Bento?
É pena!