Era um lugar de venda de fruta bem arranjado, apresentando todo o ano algumas das muitas variedades de banana e papaia e, de acordo com a época do ano, atas, tangerinas, laranjas, anonas ou abacates. Situava-se à beira da estrada, um pouco antes da ribeira de Liquiçá.
Ontem, ao fim de três dias de chuva forte e vento intenso, a água galgou o leito da ribeira, levou tudo à sua frente e a venda de fruta desapareceu. A enxurrada encarregou-se de deixar um bom depósito de lama nas casas que não ficaram destruídas.
Dizia um popular que mais umas chuvadas como a destes dias e a ponte não vai aguentar.
O que não aguentou nem mais uma chuvada foram as estradas que serpenteiam as montanhas de Liquiçá, as de Ermera e as de Bazartete. As populações ficaram mais isoladas.
Em Ermera foi a ponte para Gleno; em Bazartete, a estrada não é mais estrada, antes se tornou um monte de calhaus, troncos e terra.
Em Ebeno, antes de Pahata, a terra ruiu, desta vez de forma mais brutal que nos anos anteriores - quando a estrada ficava reduzida a um pedacinho estreito autêntico caminho de cabras, obrigando as populações locais a esventrar mais um pedaço da montanha para alargar a via – e também deixou de haver estrada.
Aliás, aquele pedaço de estrada de Ebeno foi, desde sempre, um problema sério e nunca se conseguiu – desde o tempo português - arranjar-se uma solução capaz de aguentar a fúria das águas que, em enxurrada, levam tudo à sua passagem; todos os anos a montanha se vê menos montanha e mais terra descarnada, esventrada, com menos vegetação; cada vez mais a paisagem se transforma deixando de ser luxuriante para dar lugar as hortas de mandioca ou de milho; hortas de milho verdes enquanto o milho cresce, passando a amarelo e a terra castanha e nua depois da colheita.
Havendo quem precise de lenha para cozinhar, o abate de árvores tornou-se normal. E, sem árvores para segurar os terrenos, sem uma política correcta para novo plantio de árvores, a montanha não só se torna desértica como vai dando de si, soltando-se fácil a terra, piorando as já difíceis condições de vida das populações locais, obrigando a um repetitivo e cansativo recomeçar do zero.
Agora que o tempo é de esperança e os dias do novo ano que vivemos são ainda de estado de graça porque, lá diz o ditado, “ano novo, vida nova”, esperemos que haja vontade política para que , de uma vez por todas, a reparação das estradas se faça com qualidade e se construam boas vias de comunicação necessárias para o bem estar das populações e fundamental para o desenvolvimento do país!